
Após uma ausência de sete anos, a JBS, gigante global de carnes, anunciou seu retorno ao Paraguai.. A notícia, que poderia ser vista como um simples retorno ao mercado vizinho, carrega detalhes que revelam muito mais. Este não é um retorno aos negócios como eram antes; é um movimento calculado que troca o antigo foco em carne bovina no Cone-Sul por um novo polo de produção avícola no coração do continente.
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A verdadeira história está nos detalhes por trás desse aporte financeiro. A aposta da JBS não é apenas uma expansão, mas uma mudança de foco que sinaliza uma nova visão tanto para a companhia quanto para o potencial do agronegócio naquele país. Para entender o impacto real dessa decisão, analisamos os quatro pontos mais surpreendentes e estratégicos por trás do retorno do conglomerado brasileiro.
Os 4 Pontos-Chave do Investimento da JBS

Ponto 1: Não é um simples retorno, é uma mudança de jogo: do boi para o frango
Este retorno marca uma ruptura estratégica com o passado da JBS no país. Em 2017, a empresa se desfez de suas operações de abate bovino ao vendê-las para a rival Minerva Foods. O novo investimento de US$ 70 milhões, no entanto, é direcionado exclusivamente para a produção de frango, um setor totalmente diferente.
A mudança sinaliza uma jogada de verticalização clássica para controlar custos e maximizar margens, uma conhecida estratégia global da JBS. O Paraguai possui ampla disponibilidade de grãos, matéria-prima essencial da ração, que representa o maior custo variável na produção avícola. Ao se instalar no coração da produção de grãos, a JBS de-risca a operação e constrói uma base de produção altamente competitiva.
Ponto 2: Mais que uma fábrica, um ecossistema avícola completo
O investimento vai muito além da simples aquisição da empresa Pollos Amanecer. A JBS está, na verdade, construindo uma cadeia produtiva completa e integrada que gerará 1.100 empregos diretos. O projeto inclui a criação de um complexo que engloba 28 granjas para material genético, incubatórios modernos e uma fábrica de ração própria.
O impacto na produção local será massivo, com o número de produtores integrados saltando de 19 para 139 aviários. Isso demonstra que a JBS não está apenas comprando uma operação, mas fomentando e estruturando um ecossistema avícola de longo prazo, com controle sobre todas as etapas cruciais da produção.
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Ponto 3: A grande ambição: transformar o Paraguai em uma potência global de frangos

A meta da planta modernizada é atingir a capacidade de processamento de 100 mil aves por dia. Embora a produção inicial seja destinada ao mercado interno, o objetivo final é transformar a operação em uma plataforma de exportação. O plano é ousado, especialmente porque o Paraguai possui hoje uma produção avícola relativamente pequena em escala global.
A chave para entender a dimensão dessa ambição não está apenas no volume, mas na estratégia de acesso a mercados, como revelou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, em uma declaração muito mais reveladora que o habitual:
“Nossa ambição é grande e vamos precisar que o Paraguai também tenha ambição grande. Além das fábricas, o maior investimento será abrir mercados, conquistar habilitações e superar burocracias.”
O insight aqui é crucial: a JBS enxerga o maior desafio não na construção da infraestrutura física, mas na navegação da complexa arquitetura do comércio internacional, onde a empresa aposta que sua expertise pode criar um novo corredor de exportação para o mundo.
Ponto 4: Um negócio que fortalece laços geopolíticos
O anúncio do investimento não foi um evento corporativo isolado, mas um ato de diplomacia econômica. Ele ocorreu durante uma visita oficial do presidente do Paraguai, Santiago Peña, a uma unidade da Seara (JBS) em Dourados (MS), Brasil, ao lado do governador Eduardo Riedel. Este contexto transforma o movimento empresarial em um pilar de uma deliberada estratégia de integração bilateral.
O presidente Santiago Peña reforçou essa visão, afirmando que “tudo o que o Paraguai vai fazer será junto com o Brasil”. Sua declaração de que “o Brasil é hoje o maior investidor estrangeiro no Paraguai” não foi apenas um dado, mas o reconhecimento de uma aliança estratégica. Este investimento da JBS, conectado a projetos como a ponte bioceânica, se torna um resultado tangível desse alinhamento geopolítico, posicionando a empresa como um ator-chave na construção do futuro econômico da região.
Conclusão: Uma Aposta Calculada no Futuro

O retorno da JBS ao Paraguai é muito mais do que a reabertura de uma operação. É uma jogada estratégica multifacetada que envolve um pivô setorial, a construção de uma cadeia produtiva avícola integrada praticamente do zero e um alinhamento inteligente com a crescente integração regional. A empresa não está apenas investindo em uma fábrica, mas no potencial do Paraguai como um futuro polo de produção de proteína animal para o mundo. Com um investimento tão robusto e uma estratégia tão clara, a questão que fica é: o Paraguai está prestes a se tornar o novo gigante da avicultura mundial?